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Domingo, 08 de Abril de 2012


Em entrevista ao EGO, o vencedor do BBB 10 fala sobre família, as dificuldades que passou e planos para o futuro.

Aos 38 anos, Marcelo Dourado evita qualquer tipo de rótulo. Nem os rumos da carreira pós-BBB ele quer limitar a uma coisa só. "Me vejo meio Kanye West. Admiro essa cultura americana de fazer várias coisas ao mesmo tempo".

Ainda confuso com as oportunidades da vida pós-BBB, Dourado sonha em atuar em um filme, desenhar histórias em quadrinhos, abrir uma academia, voltar a lutar e o que mais aparecer pela frente. "A vida abriu novas portas, por que não experimentar?", questiona.

Desde que venceu o programa, no entanto, Dourado tem evitado sair de casa. A fama repentina conquistada tem impedido o lutador de fazer coisas simples. "Se tento ir ao shopping, passo três horas tirando fotos e dando autográfos e não consigo atingir meu objetivo que é fazer compras", diz.

O lutador recebeu o EGO para essa entrevista no condomínio para onde se mudou desde que saiu do programa. Com R$1,5 milhão no bolso, a vida no Terreirão ficou no passado.

EGO: Sua mãe disse recentemente que gostaria de posar nua numa campanha em defesa dos animais. O que você acha disso?
MARCELO DOURADO: Minha mãe é bem grandinha. Deve saber o que faz. Ela é feminista de carterinha, não tem como impedi-la de fazer o que ela quiser. Se a minha mãe quer posar, e alguém quer pagar para vê-la pelada, acho ótimo.

Ela também disse que pretende escrever um livro “Do paredón ao paredão”. Se o livro for sobre a sua história, o que você vai achar?
Será uma biografia não autorizada. Só eu posso falar sobre a minha vida. Mas o livro pode ser também para contar a história dela. Quando meus pais foram exilados, também sofri muito. Meu pai só foi anistiado em 1994. Tive de conviver com isso. Via nele e na minha mãe as reações causadas pela tortura. Ela pode escrever um livro sobre esse período que passamos.

Nascer no Chile durante um exílio político teve algum impacto na sua vida?
Tenho muito orgulho disso. Desde pequeno, fui muito politizado. Com sete, oito anos já fazia questão de dizer de quem gostava na eleição. Não gosto de rótulos, mas geralemte simpatizo com as pessoas que tenham um pensamento mais avançado em relação ao meio ambiente e à educação, e isso acabou coincidindo com políticos de esquerda.

A esquerda geralmente está associada a uma defesa das minorias, como os gays. Esse é um valor seu?
Sou sempre pelo respeito à vida e às pessoas. Todos têm direito a levar uma vida digna, sem sofrimento. O mundo ia ser melhor se todos fossem felizes. Sou a favor da liberdade, sem que isso interfira nos outros. Ninguém é obrigado a aceitar determinados comportamentos e atitudes. Desde que não haja violência e seja de comum acordo entre as pessoas, qualquer coisa é válida.

O grupo Arco-Íris te convidou para participar de uma campanha contra o preconceito e provar que não é homofóbico. Vai aceitar?
Sob pressão, não. Um dirigente do grupo falou que seria bom para eu limpar a minha barra. Não estou com a consciência pesada e nem houve qualquer citação judicial contra mim. Minha família, assim como Pedro Bial e outras pessoas, não concordam que seja homofóbico. Minha vitória também reflete isso. Não me vejo devendo nada. Cada um deve seguir na sua luta. No momento, estou me dedicando a outras causas. Me preocupo muito com educação.

Você fala muito em educação Teve uma boa formação?
Tive uma excelente educação em casa, com muita cultura. Frequentava teatros, cinemas, planetário, zoológico, praias, rios... Uma vida muito rica em experiências. Também tive muito incentivo à leitura. Meus pais são leitores vorazes. Aprendi a ler com Asterix, Mafalda, Pasquim... Me criei com uma visão muito crítica.

Você fez aulas de ballet e piano. Como a luta entrou na sua vida?
Meu pai foi meu primeiro professor aos nove, quando fui morar uma temporada com ele. Com 10, já participava de competições de judô. No circuito profissional de vale-tudo, entrei em 2003. Já fazia vale-tudo antes, mas no circuito underground.

Você considera que amadureceu muito entre o BBB4 e o BBB10?
Demais. Na minha vida, as coisas acontecem numa velocidade muito grande. Quando fui para Nova Zelândia, foram seis meses que pareceram três anos. Eu me jogo em aventuras muito fortes. Já entrei no BBB, viajei, virei lutador de vale-tudo, foram experiências muita intensas. A impressão é que esses anos anos, do BBB 4 até agora, foram 20. Foram seis anos de vida e 20 de experiência.

O Bial falou no discurso final que seu charme era ser um perdedor. Você concorda?
Não entendi. Admiro demais o Michael Jordan, que para mim é maior atleta que vi ao vivo. Lá pelo sexto título da NBA, ele declarou que quem o via não sabia que ele tinha perdido muito mais do que ganhado. Essa entrevista me marcou muito. Minha vida também foi assim. Perdi muitos campeonatos, mas também ganhei muito. Fui campeão de judô no meu estado, vice brasileiro de jiu-jitsu, mundial de jiu-jitsu. Sou um cara que superou as dificuldades. Me considero um vencedor, jamais um perdedor. Sou um brasileiro como outro qualquer. A maioria dos brasileiros trabalha muito e, geralmente, não tem o retorno financeiro que merece.

Acredito que Bial não se referia a sua carreira profissional, mas às dificuldades que você enfrentou na vida e te levaram a morar na favela.
São palavras fortes. É verdade que enfrentei muitas dificuldade, mas fui sempre vencendo. Depois que saí do BBB, trabalhei em academias excelentes no Rio. Quando tinha atingido um nível excelente, resolvi mudar o foco e tentar uma vida no exterior. Foi uma escolha porque queria saber como era essa experiência.

Não foi uma fuga pelo você vivia aqui?
De jeito nenhum. Precisava dar um tempo de tudo o que tinha acontecido, queria dissociar o Marcelo do Big Brother, mas era uma coisa minha. Foi uma forma de reconstruir minha imagem, minha cabeça, experimentar uma vida no exterior. Chegando lá, foi difícil, mas consegui vencer lá também. Não tenho medo de mudar. Foi isso que me fez ser a pessoa que eu sou. Por isso, entrei no BBB4 e voltei no BBB10. Não me curvo diante das adversidades.

Você se considera um vencedor?
Mesmo nos momentos em que perdi, me portei de maneira digna, de cabeça alta. Já tive vitórias incríveis, mas antes de tudo sou um cara contestador. Um rebelde, no sentido bom da palavra. Nunca me acomodo. Sou muito crítico comigo. Posso até perdido muito, mas nunca encarei dessa forma.

Não acha que essa imagem de azarado te ajudou a ganhar o BBB?
Pode ser, mas é muito mais complexo do que isso. Quando voltei da Nova Zelândia, não tinha um tostão, fui morar com amigos, e consegui alugar um apartamento na comunidade do Terreirão. Só fui melhorando. Sempre pensei que se me colocarem num lugar no meio do nada, tenho de dar um jeito de me virar. Me tirem tudo o que tenho e recomeço de novo.

Quais são seus planos daqui para frente?
Não sei. Alguns agentes me procuraram e estão buscando trabalho para mim, mas não tenho empresário e sou responsável pela minha imagem.

Em que áreas você está buscando?
Não estou buscando ainda. Quero trabalhar, mas não sei onde ainda. Gostaria de desenvolver alguma coisa mais cultural, artística, que nunca tive tempo antes.

Artística quer dizer virar ator?
Se tiver a oportunidade trabalhar em um filme ou em alguma coisa como ator, ou se puder me dedicar a estudar alguma coisa nessa área, seria fantástico. Se tivesse a oportunidade de fazer alguma coisa, que envolvesse talento, não só por ser BBB, eu gostaria. Agora surgiu a oportunidade de uma parceria para fazer história em quadrinhos. Sempre desenhei.

E essa história da sua tia de dizer que você apanhou de travestis?
Foi viagem dela. Nunca apanhei na rua. Já briguei várias vezes, mas nunca apanhei. Me orgulho de que briga de rua nunca perdi nenhuma. Em vale-tudo, tenho algumas derrotas, em judô tenho muitas, mas em briga de rua, em auto-defesa, nunca perdi.

Mais uma polêmica... A ONG Fala Bicho pediu ao Ministério Público uma investigação sobre as suas declarações de que chutava poodle para aliviar o stress.
É incrível que hoje em dia não podemos fazer piada sobre nada Parece que agora tem um monte de oportunista sempre atrás de um pilar esperando eu falar alguma coisa para me processar. No programa, falei num contexto de piada, rindo. Não fiz apologia a nada. Jamais vou maltratar um animal. Tenho medo de falar mal da enchente do Rio e vir alguma ONG de defesa ao bueiro e me processar.

Vai processar alguém por alguma das críticas que recebeu dentro do BBB?
Não. É incrível que as pessoas falam o que querem. Têm boca grande para caramba. Campeões do BBB se acharam no direito de falar o que quisessem. Se eu chamar alguém de veado, sou acusado de homofóbico. Agora, podem me chamar de líder fascista. Qual a diferença? Eu ser chamado de fascista passa batido. Ninguém, nem o Ministério Público veio me defender. Isso é um preconceito danado. Para mim, isso é heterofobia.

Você acha que sofreu heterofobia no BBB10?
Houve heterofobia. Fui acusado sem direito de resposta. Durante todo o tempo do BBB, não sabia que Dicesar olhava para as câmaras e dizia que eu era homofóbico. Ele gerou uma violência danada e desnecessária. Ele merecia muito mais críticas, não por ser gay, mas por ser tão fraco de caráter. Por ser fofoqueiro, sem personalidade.

Você acha que Dicesar é responsável por sua fama de homofóbico?
Com certeza ele plantou isso durante o programa. Estava simplesmente no meu direito de não ficar imitando gay, de não dizer que tenho uma diva dentro de mim. Tinha o direito de dizer não. Por isso, as pessoas se identificaram comigo.

Já falou com o Dicesar depois do programa?
Não, nem faço questão. Só gostaria que ele parasse de me difamar. Seria uma atitude nobre dele. Encerrou. Eles perderam o jogo. A vida continua.

Quando você ouve que foi o grande estrategista do BBB, isso te soa como um elogio ou uma crítica?
É um elogio. Sou um estrategista. Meu pai me chama de estratega. O que fiz dentro do programa foi estratégia pura. As pessoas aprenderam que você pode ser jogador. Demonstrava ternura pelas pessoas que gostava ali, mas meu jogo era duro. É como nas artes marciais, você entra, joga duro, mas não odeia o adversário. Um jogo que vale R$1,5 milhão não é uma brincadeira. Todo mundo de uma maneira ou de outra está ali para jogar. Tem gente que joga dizendo que não está jogando. Dicesar foi um grande estrategista. Assim como o Kadu posar de bom moço era uma estratégia dele. Mas isso não significa que não seja natural dele.

A sua estratégia de ser polêmico e expor o erro do outro é uma coisa natural sua?
Também. E de mostrar com paixão aquilo que gosto. Meu grande mérito dentro do programa foi falar o que as pessoas gostariam de falar lá dentro. Dizer "não faço essa brincadeira". O BBB fica chato quando todo mundo é amigo e acha tudo bom. Desde o início, fiz questão me posicionar. Todo mundo se abraçava e cantava na piscina e eu falava "não vou fazer isso". Começar o jogo dizendo que é o melhor amigo e não vai se votar é inexperiência e imaturidade.

A experiência foi determinante para você vencer o BBB?
Atrapalhou e ajudou. Atrapalhou porque entrei com uma imagem pré-determinada e sabia o que me aguardaria aqui fora caso não fosse bem sucedido. Joguei a ficha para ser campeão, não para sair de novo no meio, rejeitado.

O BBB foi uma segunda chance para você de mostrar o quê?
Principalmente de ganhar R$ 1,5 milhão. Mas também queria me expressar melhor. Não mudei tanto em relação às ideias. O que mais mudei foi a maneira de falar. É da cultura gaúcha falar de uma forma mais dura. Sabia que se contornasse isso seria mais bem sucedido no BBB. Da primeira vez, fui para zoar, causar tumulto.

Por que você acredita que venceu o programa?
Falava de valores que as pessoas querem resgatar, como honra e lealdade. Muita gente não se identifica com essa idéia de homem moderno que faz tanta coisa em função da estética. Existem mulheres e homens que acham que o legal é ser mais tradicional mesmo. Homem é homem. Mulher é mulher. Existem valores perdidos. Não estou falando de opção sexual. Liberdade não é oba-oba.

Só mais um assunto polêmico. O que aconteceu quando você foi preso com drogas?
Não vou falar mais sobre isso. Agora é bola para frente. Já paguei minha dívida. Acredito que as políticas sobre tabagismo, álcool e drogas precisam de ser revistas. Deve haver menos hipocrisia e mais seriedade. O grande mal da nossa sociedade hoje é crack.

O que vai fazer com seu R$1,5 milhão?
Deixar guardadinho. Quero comprar um apartamento e ajudar as pessoas, mas com o dinheiro do meu trabalho. Não quero descapitalizar nem arriscar nada. Foi muito difícil conseguir.


Fonte: Ego
publicado por institutogamaliel às 17:50


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