A única vez que Cristo Jesus se referiu ao suicido foi enquanto respondia uma pergunta feita pelos seus discípulos: “NAQUELA mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles, E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus”. (Mateus 18.1-3)
Em seguida, Jesus correlaciona o suicídio ao escândalo, na verdade a única vez que, Cristo Jesus trata do suicido é para aconselhar algumas pessoas a suicidar-se, logo, o que poderia levar Jesus a aconselhar alguém a amarrar uma pedra no pescoço e pular no mar? A resposta é – “Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus 18.6,7).
Jesus afirma que, os escândalos sempre existirão, mas que, aquele que escandalizasse um filho de Deus seria melhor que morresse, do que, em vida experimentasse a expectativa de juízo e morte. A palavra utilizada por Jesus, no grego skándalon significa tropeço. Provavelmente, a intenção de Jesus era alertar os seus discípulos sobre o perigo de fazer um iniciante da caminhada cristã, tropeçar na fé em Deus.
O escândalo é um assunto pouco refletido pela igreja, porém, nas palavras de Jesus compreendemos a dimensão e a seriedade do significado deste pecado. De modo que, diante dos inúmeros escândalos no meio evangélico e comportamentos relacionados ao assunto, a sensação é que muitos cristãos desconhecem ou menosprezam as palavras proferidas por Jesus em relação a esta temática.
Mais grave do que o crescimento e o tratamento fugas e irresponsável com relação aos escândalos, é o crescimento do mercado em torno do assunto. Sou a favor do apologista (defensor da fé cristã) sincero e imparcial, que não consegue se calar diante da injustiça e do pecado. Mas infelizmente, o que cresce neste momento são líderes se servindo de escândalos alheios para serem conhecidos ou reconhecidos no meio evangélico. Tornam-se críticos de plantão, que ventilam, sistematizam, comercializam, e promovem os escândalos, tornando-se assim piores do que aquele que escandalizou.
Lamentavelmente, vivemos em um tempo onde o que é mais lucrativo e vendido é o sensacionalismo alimentado pelas tragédias e calamidades. Por exemplo, o jornalismo que mais vende noticiais é aquele que relata sobre morte e violência, e lamentavelmente tem se tornado assim também no meio evangélico, onde o que é mais lido e divulgado são os escândalos ou deslizes no contexto igreja.
Caso, o titulo deste artigo fosse sobre “A graça Divina”, ou a “A Misericórdia de Cristo”, inúmeras pessoas não teriam aberto o texto e lido, mas como o assunto é “escândalo”, muitos acabam sendo atraídos pela curiosidade.
Certamente que, o nosso tempo precisa de líderes que continue denunciando o pecado, o engano e a injustiça, mas que não se utilize das tragédias, equívocos ou escândalos para se autopromoverem na desgraça alheia. Nossa geração precisa urgentemente da mensagem da graça, da misericórdia, e do amor divino.
Neste momento de complexidade, relativização e extrema confusão, não necessitamos de mais líderes que se comportam como parasitas que se servem de escândalos religiosos. Necessitamos sim, de apologistas que continuem defendendo os princípios basilares da fé evangélica, mas que, ao mesmo tempo tenham lágrimas nos seus olhos em compaixão as almas. Estamos carentes de líderes que sejam inflexíveis com o pecado e o engano, mas amáveis, piedosos e parecidos com Cristo Jesus no trato e nos relacionamentos com o próximo.
De modo que, a minha esperança e expectativa é que, nesta hora de grande convulsão existencial, a consciência do evangelho cure alguns cristãos que se servem das desgraças como trampolins para o sucesso, e restaure a compaixão, a misericórdia e o amor em nossas vidas e ministérios.