Quantas mulheres não sonharam com um príncipe encantado, trazendo aquele sapatinho de cristal que era perfeito? E quantos homens não sonharam com uma linda princesa, entrando em sua festa e se apaixonando perdidamente por eles.
Assim sendo, vou tentar fazer uma alegoria e comparar o casamento com um sapato.
Ali estão moças e rapazes, todos bem cheirosinhos, penteadinhos, as simpáticas garotas desfilando com lindas roupas. Você já reparou que geralmente nas vitrines só tem um pé de calçado? Na época da paquera a gente não coloca as unhas de fora. Todos tentam mostrar só um lado, e sem dúvidas, o lado bom.
Mas alguns não se consideram sapatos de valor, não se colocam numa vitrine, não se valorizam. Ficam expostos em bancas e acham que podem ser calçados, apalpados por quantos quiserem, e deixados de lado sem nenhum compromisso.
E falando em compromisso, penso que o namoro deve ser o momento que a gente entra na loja e vai experimentar o sapato. Veja, você pode calçar o sapato, mas não pode pisar no chão, tem de andar em cima do tapete pra ele não sujar, não pode correr com ele, ou sair na chuva. Você só pode usá-lo, depois de pagar o seu preço. Muitos, hoje, acham que não há nada de mal em FICAR com um sapato que ainda não é seu. E no que implica essa expressão: FICAR?
Queridos jovens, a qualidade do seu futuro casamento, a profundidade do relacionamento de seu futuro lar depende dos elos de confiança formados durante o namoro. Algumas pesquisas mostram que os casamentos em que se preservou a intimidade física, são aqueles que possuem elos de cumplicidade, que conseguem resistir às crises e se mantém em crescimento e gratificação com o passar dos anos.
Na realidade eu não acredito que casar seja tão fácil como comprar um par de sapatos, porque o casamento, no plano de Deus, não deve ser um objeto descartável que ao começar a dar calo, você encosta e troca por outro. O casamento, no plano de Deus, é uma aliança para a vida toda.
Por isso, a escolha do seu parceiro, de sua parceira, deve ser feita com muita oração. Alias, penso que neste assunto, nós devemos permitir que Deus nos ajude a escolher, pois nosso coração é enganoso, e nós não podemos conhecer o outro profundamente. SÓ DEUS pode!
No entanto, mesmo coma ajuda de Deus, continuamos alimentando expectativas em relação ao casamento.
Sempre pensamos em:
Alguém que supra as nossas necessidades.
Alguém que nos ajude a conquistar nossos ideais e sonhos.
Alguém que nos proteja e nos motive quando estamos desanimados.
Alguém que nos traga um desjejum na cama.
Alguém que invista o dinheiro em nós.
Alguém que ache tudo que fazemos lindo, maravilhoso.
Alguém que nos ache bonita e especial.
Alguém que, sem despesas com empregada, nos livre de recolher roupas sujas, levar o lixo pra fora, lavar a louça cheia de gordura, etc, etc, etc.
As expectativas nos fazem pensar que teremos aquele sapato confortável, macio, lindo e moderno. Acho que os rapazes pensam no casamento como um lindo par de tênis Nike, ou Reebok, daqueles que não têm nem cadarço. Você coloca, gira um botão e está calçado.
As moças, talvez, pensem num scarpin daqueles que você se sente nas nuvens.
E por mais que todos digam que casamento tem seus problemas, a verdade é que todos nós desenvolvemos expectativas, sonhos, às vezes, grandes ilusões e até fantasias em relação à vida conjugal.
Os anos vão passando e você percebe que ninguém se preocupa com suas necessidades.
- Às vezes, o homem pensa que não pode realizar seus sonhos porque tem uma família para sustentar e filhos para criar. Por outro lado, a mulher se sente em segundo plano, porque entende que deve estar na sobra dos sonhos do seu marido.
- Nada do que você faz é apreciado.
- A vizinha da esquina parece ser bem mais bonita do que você.
- E por mais que você queira escapar, sempre tem uma pia com louças lhe esperando, em vários momentos do dia.
Depois de alguns anos você olha para aquele par de sapatos, e percebe que ao invés de um tênis, ou um scarpin, você tem um coturno, lhe empacando de andar. E alguns quando se dão conta que têm esse coturno, aí é que relaxam. Nem pra passar uma graxinha. Deixam seu casamento de qualquer jeito. Vão como dizem: empurrando com a barriga!
Você olha para a pessoa que está ao seu lado e pensa: onde eu estava com a cabeça. Esta pessoa não tem nada a ver comigo. É o meu avesso. E pior ainda, como você orou e pediu a Deus que o ajudasse a escolher, então cobra dEle. Mas Senhor, eu não Lhe pedi uma pessoa que pudesse me ajudar e como é que o Senhor me apronta uma dessas. Eu confiei e agora?
Talvez alguns estejam vivendo momentos de crise e perguntam: Você que eu continue com esse terrível coturno?
Primeiramente, precisamos olhar o casamento de forma diferente. Ele não é um “coturno”, mas sim, um presente maravilhoso instituído por Deus, especialmente para você.
Sim, esse sapato é uma bota ortopédica, desenhada pelo melhor Ortopedista do Universo. Um Ortopedista que conhece muito bem os seus defeitos, sabe que não é fácil corrigi-los. E sabe, também, que com esses defeitos você está PERDIDO.
Dentro da bota tem uma palmilha. Quantos de vocês já tiveram que usar uma palmilha?
Os primeiros dias são horríveis! Depois de duas horas, o pé dói tanto, que você não agüenta, tem de tirar um pouquinho. Mas se você desistir, o seu pé vai ficar torto.
Tirar um pouco a palmilha nos momentos de crise é arejar a cabeça. Saia do foco das discussões e peça a Deus que o ajude a ouvir o que o outro está falando por trás das simples palavras.
Tente perceber se o que o seu parceiro está tentando dizer não é como uma palmilha nova que incomoda, e você não está querendo ouvir. Ouvir significa:
Mudar, abrir mão de seus conceitos, da forma de pensar e ver a vida, talvez até reconhecer que suas verdades não são tão impecáveis. É reconhecer que apesar de ter pais maravilhosos, eles não são perfeitos, e os conceitos que lhe ensinaram também podem não ser tão perfeitos. Os outros modos de ser e ver a vida têm suas virtudes!
Se você reconhece que Deus instituiu o casamento e sabe o que é o melhor para você, avalie o que Ele está tentando trabalhar em você nessa relação: a fé, a abnegação, o altruísmo, o domínio próprio, a paciência, a humildade ou o perdão?
Deus, em Sua infinita bondade, permite que atravessemos crises para um propósito especial. Alguém com muita propriedade disse:
“As dificuldades que tornam a vida cheia de trabalhos e ansiedade, foram permitidas por Deus para o bem das pessoas. Fazem parte do Seu plano, como um aprendizado necessário que ajuda a tirar o ser humano da ruína e degradação que o pecado provocou.”
Em minha vida pessoal orei muitas vezes pedindo que Deus me livrasse da cruz que meu casamento representava. Até que decidi com Ele que iria aproveitar ao máximo as incompatibilidades para trabalhar o meu caráter, para crescer, para ser uma pessoa melhor e me preparar para a vida eterna.
Diante de cada dificuldade desvie o seu olhar dos defeitos enormes que você vê no outro e concentre-se em suas fragilidades. Por que você perde a calma? Por que se incomoda tanto com as manias e costumes do outro? Por que se afeta tanto com algumas de suas atitudes? Por que se sente tão deixada de lado por outras prioridades?
A partir de então, você vai começar a perceber muitas falhas, carências e necessidades em você, que independente de quem seja seu cônjuge, elas estão aí e precisam ser trabalhadas. Comece então a utilizar cada crise, cada dificuldade como um treinamento para as suas mudanças. Deixe de pensar ardentemente em querer outra pessoa na pessoa de seu cônjuge, e comece a procurar outra pessoa dentro de você mesmo.
Decida que aproveitará, ao máximo, todas as provas para ser a melhor pessoa do mundo, ainda que o outro não entenda, e não valorize as suas atitudes.
Você tem por quem lutar: por você, seus filhos, e por que não, por seu casamento?
Aceitar a bota ortopédica, insistir em usá-la, ainda que seja pesada, desconfortável e incômoda é o único caminho para corrigir os defeitos do seu próprio pé!
Eu tenho um sapato ortopédico com uma palmilha que uso há mais de três anos. No início foi difícil me acostumar com esse calombo que magoava os ossos dos meus pés. Hoje, troco qualquer tênis ou scarpin para ficar com essa palmilha. Ela é uma delícia. O carocinho me dá um conforto semelhante a uma boa massagem nos pés e tem a vantagem de estar corrigindo meus defeitos.
Não existe mágica que possa transformar o casamento em um conto de fadas. Mas existe a recompensa de esforços persistentes na busca do altruísmo, do perdão, abnegação, paciência, tolerância e da busca de transformações interiores. A solução não está no outro. O outro pode mudar, mas isso é com ele e Deus. Você não pode fazer isso.
Essa mudança de atitude não deve ser interpretada como uma abnegação tipo a da “Amélia”. Por mais que um homem ache que a mulher de verdade é a do tipo “Amélia” ela não é uma mulher valorizada, amada e admirada. Mesmo na música, apesar de reclamar, não é com a “Amélia” que o cantor está. Ela já foi deixada por uma mais exigente.
Mudar o foco de interesses não quer dizer que você deve engolir as coisas erradas que seu cônjuge faz, ou aceitar seu egoísmo. Não, porque nós também temos uma parte a desempenhar no crescimento do outro. Afinal, você é a palmilha do outro.
Calce sua bota ortopédica, engraxe-a, mantenha-a limpa e bem cuidada.
Como? Como? Como?
Só há uma maneira de se conseguir isso: amando. E amar é: ESCOLHER!
Escolher cuidar das necessidades do outro. Isto é amor.
Escolher tratar o outro com respeito, mesmo quando ele não merece. Isto é amor.
Escolher demonstrar aceitação incondicional. Isto é amor.
Escolher perdoar, independente do arrependimento da pessoa. Isto é amor.
Escolher não deixar vir à tona os acontecimentos dolorosos, e substituir as lembranças ruins por coisas positivas. Isto é amor.
Escolher calçar o sapato do outro. Isto é amor.
Você pode, porque o amor é poder.
E o que vai acontecer é que assim como aquele tênis ou o scarpin no decorrer do tempo se transformou em coturno, com o passar dos anos, diante da sua persistência e, acima de tudo, a comunhão diária com Deus transformarão seu casamento em um sapato encantado.
A verdade é que com a ajuda de Deus seu casamento poderá se transformar em uma relação de afetividade e companheirismo.
E assim, sua vida conjugal poderá se tornar aquele chinelo confortável que você passa o dia inteiro esperando para calçá-lo quando chega a casa!
Telma Clajus